Memorabília

Não me lembro de gostar de bonecas, mas descobri que Papai Noel não existia quando flagrei minha mãe colocando esse brinquedo na janela de alguma casa onde eu morava.

Eu fiz meu primeiro bolo com 13 anos e os ingredientes foram comprados no mercado Disco.

Eu me lembro que comia biscoitos de polvilho doce que se vendiam a granel nas Casas da Banha.

Por muito tempo, ouvi o programa Patrulha da Cidade, com Samuca e Nelio Bilate.  Mas eu sempre achei a Zora Yonara estranha, a começar pelo nome.

A primeira geladeira (que a gente compra) a gente nunca esquece.  Paguei uma Prosdócimo caramelo (a cor do momento) em 10 prestações de R$ 49,00, nas Lojas Arapuã.  Foi o primeiro milagre de São Plano Real na minha vida.

A primeira TV (que a gente compra) a gente nunca esquece. Era uma Semp Toshiba MAX COLOR, UHF-VHF de 20'. Colorida.  Mas eu tive que colocar o clássico pedaço de bombril na ponta da antena, porque o sinal era péssimo.

Só existia uma lanchonete onde se comia frango olé: era a Gordon.

Assisti, parcamente, à Guerra Irã x Iraque.

Eu me lembro da Guerra das Malvinas.

Assisti, numa manhã chuvosa, ao casamento da Princesa Diana com o Príncipe Charles. Eu e o mundo inteiro, né.

Numa igualmente manhã chuvosa, fui para a Praia de São Conrado ver o Papa João Paulo II passar no papamóvel em direção ao Vidigal.  Ele passou tão rápido que pareceu uma bolinha rosa voando.  Ele era bem rosinha.

Assisti, também, ao videoclipe do Michael Jackson, o Billie Jean, no Fantástico.  Eu, e todas as meninas ficamos chocadas e encantadas com o permanente afro que ele tinha feito.

Por muito tempo eu decorei todos os sambas-enredo de todas as escolas de samba do grupo A, porque não existia Grupo Especial.

Eu fiquei muito triste com a eliminação da Seleção Brasileira na Copa da Espanha. Eu tinha uma bola de golfe da cor laranja e com ela fiz um chaveiro, e coloquei um pedacinho de feltro verde no topo, para ele se parecer com uma laranja.  E o mascote da Copa era o Naranjito.  E quando a Seleção foi eliminada na Copa do México, eu achei que iria morrer e nunca veria o Brasil ser campeão mundial de futebol.

Eu quase chorei com  o painel humano que mostrava o Misha, o mascote, com lágrimas, na despedida das Olimpíadas de Moscou.

No verão de 1985, o Rock in Rio foi realizado no Recreio dos Bandeirantes, que era tão longe que fazia fronteira com a Patagônia.  Eu não fui porque não tinha idade nem dinheiro.  E tinha a Nina Hagen muito doida e B-52's comportadinhos.  A noite romântica foi com James Taylor e George Benson, mas no dia do heavy metal todo mundo foi vestido de preto, com correntes, tatuagens e caveiras, e todos os artistas metaleiros haviam feito pacto de sangue e vendido a alma para o diabo.   O White Snake também tinha feito pacto e vendido a alma mas um dia eles gravaram uma música romântica chamada Is this love?, e aí eu não entendi mais nada.  Quase ninguém dava bola para o rock brasileiro.  Só para o Paralamas do Sucesso.

E quando o grupo Kiss esteve por aqui, disseram que eles pisavam em pintinhos no palco com aquelas botas enormes que eles usavam. O vocalista gostava muito de "causar" com a sua língua enorme e todos eles também haviam feito pacto de sangue e vendido a alma para o diabo.  Mas quando começavam a tocar I wanna rock'n roll all night, ninguém ficava parado.  Hoje, aqueles roqueiros endiabrados são pais e avós respeitáveis e estão podres de ricos.

Acho que eu era a única criança no planeta que curtia o Renaissance, um grupo inglês de rock progressivo. Rock progressivo.  P-r-o-g-r-e-s-s-i-v-o.

Eu fiquei chocada com a morte da Elis.  Eu e o país inteiro, né.

Até hoje eu não entendi porque a Tetê Espíndola foi a vencedora do Festival dos Festivais.  Eu e o país inteiro, né.

Eu forcei uma barra imensa para gostar do Oswaldo Montenegro, mas a barra era pesada demais.

No verão de 1985, eu li uma coleção quase completa de revistas Sabrina.  E depois nunca mais.

Eu chorei com a história A Ira dos Anjos, de Sidney Sheldon.  E depois eu li uns outros 3 livros do Sidney Sheldon.  E depois, nunca mais.

Eu nunca li Ágatha Christie, sempre a achei muito chata com aquelas histórias rocambolescas.

Quando eu tinha uns 10 anos, eu tinha um amigo jornaleiro e lia gibis di grátis.  Nessa época, fiquei obcecada em revistinhas de terror.  Eu lia Drácula, Lobisomen, Spektro, Terror e Conde Dinho, apesar de essa última não ser apropriada para a minha idade.  Depois fiquei viciada na revista MAD, que também não era apropriada para a minha idade, mas eu morria de rir.

Minha primeira foto para a Carteira de Trabalho - preta e branca - foi tirada numa pracinha, no famoso lambe-lambe.  

Eu atravessei várias noites ouvindo o programa Good Times 98 e aguardava ansiosa pela hora da tradução da noite, que começava à 1h00 da madrugada. Na manhã seguinte eu acordava no bagaço. Eu ouvia muito a Rádio Cidade FM e Antena 1 mas era ignorante o suficiente para não ouvir a Rádio Fluminense - a Maldita, porque só tocava rock e música de surfista.  Mas eu também cheguei a ouvir a Rádio Mundial AM.

Eu experimentei comer batata frita com catchup na Confeitaria Bonis, que também vendia a torta de chocolate mais gostosa do mundo.

Eu até fiquei preocupada com o Cometa Halley se chocar com a Terra e acabar com a raça humana, assim como aconteceu com os dinossauros. Mas ele passou tão longe que, a olho nu, poderia ser confundido com uma estrelinha, e na hora eu também deveria estar dormindo e  mais uma vez o planeta foi salvo.

Na mesma época em que aconteceu o acidente nuclear de Shernobyl, eu ganhei uma capa de chuva amarela neon e o bullying foi inevitável, porque os colegas do colégio me perguntavam se eu tinha saído da tal usina e voltado a pé para cá.

Também aguardei um pouco apreensiva o Bug do Milênio em que todos os sistemas iriam zerar e seria o caos mundial.  Mas não aconteceu nada e eu assisti a transmissão do Revéillon de Copacabana pela TV comendo bolinhos de bacalhau com rabanadas.

Eu fiz curso de datilografia numa máquina mecânica Olivetti 98, e por isso hoje em consigo digitar com os 10 dedinhos.

Eu também fiz o curso de programação Basic e Cobol, mas não aprendi nada.

Um dos meus sonhos de consumo era ter um Fiat 147.  E depois, um LADA Riva.  Tentei várias vezes gostar de fusca, mas não consegui.

Eu gostava muito do programa Armação Ilimitada e não perdia nenhum episódio do TV Pirata.

Eu usei scarpin branco.  E muita ombreira.  E, sim, calças de cós alto, as chamadas "santropeito", porque elas batiam acima da boca do estômago.  Quem, como eu, já tinha uma pança, ficava mais barriguda ainda.  E aí que outro dia, alguém que odeia muito as mulheres teve a maligna ideia de trazer essa calça lá das profundezas das trevas e lançá-la como moda novamente.

Eu tive um Kichute e tenho quase certeza de que tive também um Bamba, mas não cheguei a usar Konga.

Eu não assistia aos programas da Xuxa, mas eu não perdia os primeiros programas do Gugu Liberato que passavam aos sábados à noite e onde s-e-m-p-r-e tinha a dança do Meu Pintinho Amarelinho.

Quando eu concluí a 8ª série, ganhei um estojo com todas as pulseiras coloridas do relógio Champion. E aí eu montava o relógio com uma pulseira diferente em cada lado.

Fui várias vezes ao mercado Pegue-e-Pague.  E o material escolar era comprado na papelaria Casa Mattos.  Gostava de comprar balas a granel nas Lojas Brasileiras, mas a Mesbla e a Sloper ficavam muito longe do meu poder aquisitivo.

Esses são só alguns fragmentos da minha parca memória.

Excelente domingo!



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